24 de março de 2010

NA CAMA, a.k.a. O destino é um senhorzinho irônico!


Direção: Matías Bize
Ano: 2005

Uma hora e vinte minutos sobre um casal dentro de um quarto de motel. A questão moral presente por trás do simples encontro casual de Bruno e Daniela foi abordada de forma interessante e, apesar de tratar-se de um tema já “normal”, não se baseia em contos de fadas, mocinhas e mocinhos que se apaixonam por vivenciarem situações atípicas juntos. Na verdade, não há nada de atípico na história de “Na cama”.


O filme começa com ruídos de sexo, seguidos por imagens desfocadas que logo tomam a forma de dois corpos em diversas posições. Eles são dois estranhos que passarão uma noite juntos, sem promessas e sem expectativas. Além de mais duas cenas de sexo, que, por sinal, foram mostradas de forma bem bonita e realista, vemos os dois se conhecendo. A transição da intimidade primeiramente apenas física, e por fim plena que se dá entre os dois é captada de forma convincente. Ambos ao mesmo tempo em que sabem a real situação em que se encontram, não alimentando esperanças, acham no outro uma possível esperança, um companheirismo – mesmo que apenas por aquela noite.


E a opinião do espectador evolui junto com a opinião de um pelo outro. Na troca de experiências, nós nos tornamos reféns dessa atmosfera de sonho que parece tomar conta dos dois, e chegamos a desejar que este seja, sim, mais um daqueles filmes de Hollywood, e que tudo fique bem no final. Mas as realidades de ambos são muito diferentes, e este encontro não pode ter importância na vida de nenhum dos dois.


Além de o filme se passar inteiro dentro deste quarto, a fotografia se apresenta como se feita com uma câmera amadora, talvez para dar a impressão de que somos intrusos nessa experiência curta que Daniela e Bruno compartilham. Alguns planos me lembraram muito Wong Kar-Wai, principalmente em “Um Beijo Roubado” e “Amores Expressos” – a ação sendo filmada no fundo, e objetos fora de foco em primeiro plano, também servindo para nos dizer que estamos espiando o que acontece naquele quarto.


Me faz pensar que o filme trata da questão de como, algumas vezes, é mais fácil compartilhar do seu corpo do que dos seus sentimentos, do seu íntimo. Talvez a inversão de valores esteja aí: o que antigamente era “proibido”, julgado, hoje em dia pode servir de estopim para que outras áreas de um ser possam ser compartilhadas. Para se ter sexo só se precisa de um corpo. Para se ter algum sentimento, aí sim, é preciso que outras coisas estejam presentes. E, apesar da atmosfera de esperança e companheirismo que passamos a sentir no quarto do motel, é a realidade quem toma as rédeas. Nos deixando como Bruno e Daniela: sabendo que tudo acabará quando sairmos daquele quarto.

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