2 de novembro de 2010

ILHA DO MEDO, a.k.a. Já conheço esse final de outros carnavais!



Direção: Martin Scorsese
Ano: 2010

Desde o começo, o filme me passou essa sensação estranha de que algo estava muito errado dentro da instituição psiquiátrica. Algo além do que o próprio protagonista, o Agente Edward Daniels (Leonardo DiCaprio) esperava. A real proposta do filme não é acompanhar a investigação de Daniels pela ilha, tentando descobrir onde foi parar a paciente desaparecida, e sim fazer-nos acompanhar o próprio agente nesta busca. E a gente sabe que vai sobrar alguma coisa para ele.


Daniels já chega na ilha desdenhando dos pacientes do hospício - que por sinal, era o único que aceitava réus com problemas mentais da maior periculosidade no país - e, junto com seu mais novo parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), pressiona os responsáveis pelo lugar por mais informações sobre os que lá estão - sejam pacientes ou funcionários. O diretor da instituição não fornece os dados desejados por Daniels e, junto com a insatisfação de procurar por uma pessoa que aparentemente ninguém sabe dizer como escapou, um furacão passa pela ilha - trazendo uma chuva torrencial e acabando com toda comunicação com o resto do mundo.



E neste ambiente de problemas e até mesmo pesadelos, Daniels começa a sentir dores de cabeça e fica cada vez mais paranoico. Não divide todas as informações com seu parceiro, tem sonhos constantes com sua falecida mulher - que o diz que não só a paciente desaparecida, Rachel Solando, mas também Andrew Laeddis (que mais tarde descobrimos quem é) está lá -, e começa a desconfiar que os diretores do hospício escondem um segredo maior do que ele esperava.

Seus sonhos com sua falecida esposa mostram uma fotografia linda, com cores que a "realidade" no filme não nos mostra; e, num misto de cinzas do incêndio em sua casa antiga e sua mulher lhe falando fatos de seu caso atual, nos perguntamos se essa grande ilusão seria um aviso, somente um sonho ou um indício de que o próprio agente está perdendo a cabeça.



E quando o agente Daniels revela ao parceiro que o real motivo para estar na ilha era para investigar a instituição e os possíveis experimentos nas mentes das pessoas, os dois começam a achar que Daniels fora enviado para a missão de encontrar Rachel Solando como uma desculpa para que ele não saia mais de lá. De fato, acho que já daria pra ficar bem psicótico só com isso né? Mas ele precisa de provas e, cada vez mais, Chuck coloca na sua cabeça idéias sobre conspirações governamentais.



Não sou exatamente fã de Scorsese, mas reconheço o cuidado que ele teve em dirigir este filme. Ele cria bons motivos para transições nas roupas dos dois agentes, cria um bom personagem em Edward Daniels - tendo ele seus próprios demônios internos e traumas - e maravilhosamente instaura um clima noir, bem misterioso, beirando ao caos, de se saber preso em um lugar onde todos podem estar (e provavelmente estão) mentindo, cheio de pessoas perigosas - sejam elas clinicamente atestadas ou não - e a confusão que se instala na cabeça do próprio agente, questionando sua própria sanidade.


A fotografia na ilha, dentro da instituição e principalmente dos sonhos e memórias de Daniels fora cuidadosamente trabalhada e, se prestarmos atenção, notamos as diferentes nuances entre sonho X realidade X delírio. Chegamos ao ponto mesmo de pensar que o filme é uma alucinação nossa.



Sobre o final... bem, acho que já esperamos que este nos surpreenda, então ficamos o filme inteiro tentando captar as "pegadinhas" e os possíveis desenrolares que esta ou aquela ação podem acarretar. É claro que Scorsese tentou dar uma surpreendida, mas não acho que seu objetivo era de fato o de surpreender - até porque o desfecho não é lá graaandes coisas. Já a forma com que ele abordou esse final foi bem interessante.



Para mim, o filme valeu por todo o cuidado com que foi feito; até Mark Ruffalo, que eu considero um ator mediano de comédias românticas, está bem. DiCaprio está ótimo - como em praticamente todos os seus trabalhos desta sua retomada (esquecendo a fase negra por volta de Titanic). Mas, mesmo que estes elementos não estivessem presentes, o filme ainda valeria para mim, pela fala final de DiCaprio no filme. Isso sim foi o surpreendente de Ilha do Medo.

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