26 de abril de 2011

sobre NOT I, de Beckett - dirigido por Neil Jordan (2000)


Not I acontece em um espaço muito escuro, iluminado apenas por um unico feixe de luz. Tal holofote se fixa na boca de uma atriz a aproximadamente 2,5 metros do palco, estando todo o resto totalmente escuro. A boca profere em um ritmo feroz uma logorrhea (fala doentia) de frases fragmentadas e confusas que contam de soslaio a história de uma mulher em torno dos 70 anos abandonada pelos pais após um nascimento prematuro, que viveu uma existência mecânica e sem amor e que aparentemente sofreu uma experiência traumática não especificada. A mulher esteve praticamente muda desde a infância com exceção de explosões ocasionais, uma das quais compreende o texto que ouvimos. A partir do texto podemos inferir que a mulher foi estuprada, mas isto é algo que Beckett deixou muito claro quando perguntado: "Como você pode pensar em algo assim! Não, não, de forma alguma - não foi isso mesmo!". Parecer mais provável ela ter sofrido algum tipo de colapso, possivelmente até mesmo a sua morte, enquanto "passeava em um campo... procurando a esmo por prímulas".

A mulher relata quatro incidentes de sua vida: deitada de bruços na grama, para no supermercado, sentada em um "morro no Acre Croke" (um lugar real na Irlanda, perto do hipódromo de Leopardstown) e "aquela vez no tribunal", cada uma delas sendo precedida por uma repetição na reprimida primeira 'cena' que foi tida como uma epifania; o que quer que tenha acontecido com ela naquele campo em abril foi o que provocou o começo da sua fala.

Sua reação inicial ao evento paralisante é concluir que ela está sendo punida por Deus, mas ela percebe que não está sofrendo; ela não sente dor, assim como em vida não sentiu nenhum prazer. Ela não consegue pensar no motivo porque está sendo punida mas aceita que Deus não precisa de um "motivo particular" para fazer o que Ele faz. Ela acredita ter algo a dizer apesar de não saber o que, mas acredita que se relembrar os eventos de sua vida por tempo suficiente ela acabará tropeçando naquilo pelo qual ela precisa buscar o perdão. Somado ao contínuo zumbido em sua cabeça agora há uma luz de intensidades variadas a atormentando; os dois parecem estar relacionados.

Como em muitos dos trabalhos de Beckett há uma natureza cíclica aumentando e diminuindo a expressões similares, sugerindo que isto é um instantâneo de um evento muito maior.

O título vem da insistência repetitiva da personagem de que os eventos que ela descreve ou faz alusão não aconteceram com ela.

Esta versão, dirigida por Neil Jordan começa de forma diferente da versão da BBC. Aqui, Julianne Moore entra em cena, senta e então a luz se fecha em sua boca. Por causa disso, os espectadores ficam cientes de que uma mulher jovem, em oposição a uma "bruxa velha", está encarnando a protagonista.


* retirado e livremente traduzido do Wikipedia


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